sexta-feira, 29 de abril de 2011

Epitáfio

Depois de quase um mês da tragédia de Realengo me sinto a vontade para falar do caso, não sem dor. Mas quando acontecem coisas assim a unica coisa que sei fazer é derramar lágrimas silenciosas me perguntando: Por que?
Um dia pela manhã dezenas de crianças sairam de casa para ir à escola, algumas brigadas com os pais, outras inseguras sobre as provas, outras prometendo que iam dar aquele primeiro beijo que já estavam adiando há meses...Enfim, todas sairam de casa com planos, sonhos, que pra maioria das pessoas podem ser adiados. Mas não pode! Nenhuma voltou pra casa com vida, aqueles pais que se recusaram a dar o beijo de boa noite por conta de uma resposta atravessada, ou uma nota ruim, não se perdoam. Outros pais ouviram coisas que magoaram, e estas crianças não tiveram tempo de voltar pra pedir perdão. Disso tudo, alias não só de tragédias como essa mas de todas incluindo as naturais, eu só tiro uma conclusão: O amanhã não existe!
O hoje é o amanhã, que ontem nos dava medo. Perdemos tempo demais adiando coisas, adiando sentimentos, ou nutrindo sentimentos que nos adiam VIDA. Todo ser humano no fundo pensa ser imortal, aí vem a morte e esfrega na nossa cara que podemos não acordar amanhã. E aí?
Tenho a estranha mania de perguntar pras pessoas o que elas fariam se descobrissem que iam morrer no dia seguinte. Todas fazem listas de aventuras, de pessoas que procurariam, etc. Então eu pergunto: E por que não fazem?! Porque sempre deixam pra amanhã. Como todas aquelas pessoas que morrem nos terremotos, como todas as pessoas que morrem de bala perdida, como todas aquelas pessoas que morrem.
É tão ironico, perdemos tempo, com um tempo que não existe. Nos preocupamos com coisas tão banais..."pré ocupação" com o amanhã, o futuro...E hoje...Ahh hoje estamos muito cansados, deixa pra amanhã.
Sempre, desde pequena, fui a favor de fazer o que eu queria, claro sem magoar e nem prejudicar ninguém nesta caminhada, mas quanto mais cresço e quanto mais vejo e percebo o quão frágil a vida é, me agarro ainda mais nessa força que me faz viver cada dia como se fosse o ultimo. Cubro minha família de amor, cubro meus amigos de carinho...Pra quem não entende essa solicitude por viver intensamente pode até achar falsidade ou até mesmo chato demais. Mas me dá uma sensação de dever cumprido. Odiaria ver alguém partir deste mundo sem a certeza de quanto ela foi especial em minha vida.
De certeza sobre a vida só temos a morte. Hoje estou aqui bebendo um vinho delicioso, com o frescor do mar beijando meu rosto, escrevendo coisas do coração nesse espaço. Amanhã eu não sei.
De tudo que vai ficar não são os milhões que você tem no bolso, não são as lágrimas que você conseguiu tirar de seus inimigos... O que vai ficar são lembranças. Que só você tem o poder de faze-las boas ou ruins. De tudo o que vai ficar...Vai ficar apenas o Epitáfio. E no meu, peço que copiem Fernando Sabino: "Aqui jaz uma Paulinha, que nasceu mulher e morreu menina"


5 comentários:

  1. Meu epitáfio será "Se eu voltar como cana, me façam pinga, não açúcar."

    Beijos Paulinha!!! :)

    ResponderExcluir
  2. lindo paulinha. E a mais pura verdade na minha lápide pode colocar enfim of line shsuhsushushushsuhsush

    ResponderExcluir
  3. Pessoas sensiveis são assim mesmo, não conseguem julgar assassinos, nem maldade apenas sentem e lamentam a falta de amor. Eu até agora tbm não consigo falar do q aconteceu. Acho q só quem não tem essa sensibilidade com a dor é começa a atirar pedras imediatamente e na verdade acho que nem sentiram muito viu?
    Parabéns pelo texto paulinha. Você é incrível! irreverente no twitter e sensível aqui. Adoro esse cantinho

    ResponderExcluir
  4. Aaaaa e meu epitafio sera: eles passarão e eu passarinho

    ResponderExcluir
  5. kkkk Adooooooooroo esse verso de Quintana. " E todos aqueles que atravancam o meu caminho: Eles passarão...E eu passarinho" Muito bem lembrado! Obrigada pelo carinho! :)

    ResponderExcluir