terça-feira, 27 de julho de 2010

Viver

Viver, vida, coisas contidas, mistérios absurdos. Calo-me para os surdos, não vivem não sentem, não mentem nem podem se ver.
Vida, sentimento profundo para mim ou para o mundo, só quero viver. Vida, razão ou defeito, vitória ou direito, talvez um dever, o dever de vencer, vencendo se vive, inclusive se aprende. Vida no sol no sal no bem e no mal que você me faz, me traz ou me deixa, não há somente elogio no ar tão macio do seu reclamar.
Vida, opinião, sugestão, mistérios do coração que, quando você me abraça, consigo esquecer. Nada mais nada menos que encontros pequenos vividos a dois, depois, um longo amanhã, um portão, um divã, mas cadê? Cadê sua presença, numa crença mais forte do que eu, a janela aberta, café na coberta, o bule vazio, o sapato jogado, o telefone no gancho, por que o espanto? Ele não ligou: Horário marcado, ambiente fechado, mais um dia eu vivi, e não o esqueci, não quero querer, insisto em viver, vivo pra você!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A outra...

Ela realmente é muito maluca...
Fica aqui ao meu lado falando coisas sem sentido, me fazendo lembrar do que já havia esquecido.
Agora deu pra não comer...E sou eu que emagreço. E eu bebo...Só para deixa-la mais louca!
Ela não sabe o que quer da vida. Ora com ar de mulher ora com ar de menina. Se contenta com tão pouco. É mandada até pelo cachorro. Ela tem medo. Medo dos assobios que vem da rua. Medo dos barulhos que vem do banheiro. Ela parece ter medo de tudo. Eu não a entendo, e nem a aceito. Ela fica remoendo o passado achando que é tudo culpa dela...Ela é deprimente.
Ela aceita o que é inaceitável. Ela aceita tudo. Meu Deus! O que passa na cabeça dessa louca? E ela acha que eu não vejo, que não a entendo...E realmente não a entendo. Ela quer atenção enquanto eu quero silencio. Ela quer chinelo e pijama enquanto eu quero festa. Ela não me entende, mas me aceita. Eu não a aceito, eu acho chato.Ela diz que é vida. Eu discordo. Ela precisa entender que nem tudo depende dela. Ela precisa entender que nem tudo é culpa dela. Eu não quero pensar no amanhã e ela me vem com respostas. Eu falo sobre sorte e ela me vem com destino. Ela é chata e diz que eu sou inconsequente. Eu falo de vida e ela espera a morte. Eu procuro o sol e ela sempre de óculos escuros. Ela é louca! Ela procura alguém que se pareça com ela. Eu procuro alguém que me complete. Ela quer quem a entenda, eu quero alguém que me interrogue. Ela quer um homem que a escute, eu quero alguém que me emudeça. Ela quer alguém pra vida inteira. E eu? Eu também....

terça-feira, 20 de julho de 2010

O príncipe sapo

E de repente aquele carinha que você conheceu lá no colegial te adiciona no Orkut. E você finge que faz um esforço enorme para lembrar quem é. Trocam MSN e você nem acredita que aquele gatão que era o sonho de todas as meninas estava pedindo para teclar com você. Conversa vai... conversa vem e ele te convida pra sair. Você liga para todas as suas amigas “nerds” da época da escola e conta que vai ter um encontro com nada mais nada menos que o Marcelão. Quem? É amiga o MARCELÃO. Aquele da escola? Jura amiga? Juro ele mesmo. Quero saber todos os babados hein. Pode deixar.
E você vai ao encontro. O marcado é você pega-lo na casa dele. Ele não tem carro? Você não sabe, mas também nem se lembra se ele mencionou alguma coisa. A 20:00 você estava lá no portão da casa dele, uma senhora o leva até a porta do carro com o guarda-chuva, será que é a mãe dele? Aaahh deixa pra lá, finalmente você vai sair com o MARCELÃO, o resto não importa.
A comida do restaurante estava ótima, o vinho também. Só você bebeu o vinho ele preferiu uma cerveja. A conta foi dividida. Você ficou com a maior parte, pois foi você quem pediu o vinho. A conversa... hummm...Digamos que ele não compartilha das mesmas ideias que você. Alias vocês não tem nada em comum, e começa a ficar com medo do que vem depois do jantar. Ele pede para ir pra sua casa. Que duvida cruel. Afinal, era o MARCELÃO. Tudo bem, não custa tentar. Beijos vai, beijos vem e o sexo... que sexo? Já acabou? E ele quer que você busque uma cerveja pra ele? E ele quer assistir televisão? E aposto que quer ligar para todos os amigos contando à noite que teve também. Você inventa uma desculpa e o expulsa de sua casa. Liga para sua amiga e diz: Amiga, lembra que eu falei com você que ia sair com o MARCELÃO da escola? Pois é, eu sai COM O MARCELÃO DA ESCOLA.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Alguém chamado Alfredo.

Você está em casa em um sábado à noite. Tudo o que você quer é curtir sua pipoca, quem sabe um vinho e brincar com o controle remoto. Não, o João não ligou. Talvez tenha dormido, talvez esteja trabalhando... você está se enganando! Ele não quis te ligar!

Você passa os canais da TV como se o controle remoto fosse seu cardápio a La carte, onde você pode saborear uma romântica comédia que te fará chorar, ou um amedrontador filme de terror que te fará chorar, ou uma comédia que será tão engraçada que te fará chorar. Porque afinal, ele não ter ligado é o motivo do teu choro. Mas você é uma mulher moderna que não chora por homem. Você vai até a cozinha e abre a geladeira: “Merda de dieta” Você pensa. Na geladeira só tem coisas naturais. Que mulher em casa sábado a noite quer comer “coisas” naturais? Então você pega o telefone: “Ligo pra ele?!” Nãooo, você não liga. Você é uma mulher bonita, interessante e inteligente. Se ele quer correr atrás de “rainhas do funk” é problema dele! Será que ser rainha do funk te fará mais feliz? Será que ser burra é mais inteligente?! Não, você não acha isso. Você não gastou 4 anos de faculdade por nada. Teria gasto 4 anos em uma academia.
Você quer alguém que te ouça, que te admire, que te respeite. Não pela quantidade de seguidores no twitter, mas pela sua capacidade de pensar e de ser quem você é.
Então você solta o telefone, e pega de novo, dessa vez decidida a fazer uma ligação: “Alô, é do delivery?!” Sim! Você vai pedir uma pizza enorme, com tudo o que você tem direito. Afinal, você está em casa, em um sábado à noite, sozinha, com “Carmem Electra” na TV e você precisa de carboidratos para se sentir viva. Uma segunda chamada em quanto você fala com o delivery: “Alô? Oi amiga...” Era a solução dos seus problemas! Sua amiga estava te convidando a conhecer um amigo dela: “O Alfredo” E você não hesitou. Vestiu sua roupa mais bonita e foi ao encontro dele, pensando que ali poderia estar à solução de seus problemas: Esqueceria o João e seria feliz para sempre.
Você chegou à casa da sua amiga e foi recebida com festa. Todas as suas outras amigas solteiras também estavam lá. Conversaram, beberam vinho e no final da noite quando você já havia esquecido o João, você lembrou do Alfredo: “Cadê o Alfredo?” Você perguntou. Então veio o ‘Alfredo”, uma deliciosa pasta italiana, regada com muito molho a bolonhesa. E você se sentiu a mulher mais feliz do mundo. Afinal, não era o João que você queria, era alguma “referencia” masculina. E “Alfredo” com todo seu sabor apaixonante, fez você esquecer de vez o João, e ter uma noite deliciosa ao lado de suas amigas. Lembrando mais uma vez que você não precisa de uma figura literal masculina na sua vida. Pode ser o “Alfredo”! Um carboidrato danado de gostoso.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A mulher misteriosa

Com certeza você já deve ter visto uma dessas ou no seu trabalho, grupo de amigos ou mesmo andando nas ruas. Talvez você até mesmo seja uma dessas mulheres.


É fácil reconhecer a mulher misteriosa. Ela jamais atende o celular na sua frente. Se levanta e vai atender bem longe de você. E você não sabe se ela está narrando alguma postura do Kama Sutra ou uma receita de bolo de fubá da vovó. O toque do seu celular é discretíssimo e você nem percebe que ela saiu de perto pra atender. Porque ela também é discretíssima.

Por que terminou o namoro da mulher misteriosa? Ela enjoou dele? Levou um pé na bunda? O cara morreu? Ela ta sofrendo? Você nem sonha. Ela não conta nem pro terapeuta. Aliás, você também jamais vai descobrir se existe um terapeuta.

Sua idade é entre 25 e 38 anos. Não dá pra saber só de olhar. Seu rosto se desfaz em segundos. Talvez ela more nos Jardins. Pinheiros. Veio de Curitiba. Ela é carioca? É ali por perto, você acha. Seu carro é preto ou cinza, quase certeza. Ela gosta de música, porque vive de I-pod. Mas o que será que ela escuta? Nada. você não sabe absolutamente nada da mulher misteriosa. Quando você a encontra no banheiro, dá um segundo e ela desapareceu. E você louca pra descobrir, ao menos, a marca da sua pasta de dente.

Numa mesa de bar com conversa animada ela se limita a sorrir. Numa festa importante ela se limita a aparecer por minutos e desaparecer em segundos. Em um show ela jamais canta as letras, rebola, comemora, fica suada. Aliás, quem é que já encontrou ela em algum show? Ou em algum lugar? Mas era ela, não era?

Dizer seu nome em vão parece até um pecado. Ela nunca fala de ninguém e muito menos dá assunto para alguém falar dela. Não se tem nada a dizer dessa mulher. Mas, para desespero geral de todas as outras mulheres, o mundo não tem outro assunto.

Todos os homens desejam loucamente a mulher misteriosa. Todas as mulheres desejam loucamente a mulher misteriosa. Sua personalidade incerta acaba se tornando uma personalidade fortíssima e seu jeito anulado acaba se tornando um espaço gigantesco para todos imaginarem o que bem quiserem.

E eu, como estava dizendo, sempre quis ser dessas mulheres imperfuráveis, inatingíveis, inaudíveis e incompreensíveis. Mas nunca consegui. Quando vou ver, já contei minha vida pra primeira pessoa que me deu um pouco de atenção. Já to rindo alto no restaurante porque não me controlei e fiquei feliz demais. Já escrevi um texto sobre o fulaninho da terça passada e publiquei numa revista. E o fulaninho ta morrendo de medo porque escrevi que gosto dele. E se alguém perguntar, vou dizer mesmo que goste dele. E se ele não gostar de mim, minha tristeza não será segredo para ninguém. E minha pasta de dente é para deixar os dentes branquinhos. E quando vou ver, lá se foi a mulher misteriosa que eu gostaria tanto de ser. Porque eu jamais poderia ser uma.

E sofri anos com isso. Até que resolvi conviver de perto com algumas mulheres misteriosas para tentar descobrir o que se passa na cabeça e na alma desses seres incríveis que nunca têm nada a dizer, a doer, a aconselhar, a cantar, a dançar, a morrer de rir, a fofocar, a detalhar, a exagerar, a sonhar, a dividir, a acrescentar. E descobri que a coisa era muito mais simples do que eu imaginava: nada. Não se passa nada de relevante nem na cabeça e nem na alma dessas mulheres.

As mulheres misteriosas, tão admiradas e desejadas, não passam de mulheres sem a menor graça. Elas não calam por mistério, charme ou discrição. Calam porque simplesmente não há nada mais sábio que elas possam fazer.