terça-feira, 19 de novembro de 2013

Não quero pérolas nem porcos. Nem amanhecer e nem luar. Quero o meio termo. O equilíbrio. Por muitas vezes fui roda gigante, e como toda roda gigante me sentia cansada e enjoada.
Quando em cima feliz por estar perto do céu, quando em baixo feliz também por ter chão.  Por muito tempo quis ser um tapete voador. Estar no chão quando fosse conveniente e estar no céu quando necessário.
Por muitos anos colecionei rouquidão e ouvi em preto e branco. Uma bailarina com a perna quebrada.  E isso foi tão ridiculamente fácil quanto me fingir de cega.  Nunca consegui colorir meus parágrafos e nunca ninguém me ensinou a falar colorido sem me borrar. Era tudo muito, sempre foi tudo de mais.
De todas as festas sempre sobraram brigadeiros e pedaços do meu estomago.  Juntava papéis, guardanapos e sangue no final de cada uma. Fazia uma orquestra com as latas de alumínio cheias de pedaços do meu coração e ouvia seu tilintar. As batidas de um coração cansado junto a pedaços metálicos fazia poesia.  De fora ouvia gritos e musica, nunca soube diferenciar.  Na minha caixa de pandora todas as fantasias que não perceberam que o dia havia chegado dançavam a melodia desafinada. Ninguém nunca trouxe cola pra perna da bailarina. Ela queria dançar também.  As paredes da sala eram feitas de chão. Às vezes me confundia e quebrava a gravidade. Estava dançando na parede. Quando via já tinha me esborrachado. Levantava com leveza segurando as calças e os dentes perdidos na queda. Eu não subi na parede porque quis.

Comi a realidade muitas vezes com manteiga no café da manhã. Me perdia em casa e acabava na tomada tentando entrar na televisão.  Percebia os olhares tortos, mas não sabia se eram tortos realmente ou se apenas eram ilusão da roda gigante que estava. Fechava os olhos torcendo pra que a corrente elétrica não me matasse.  Eram olhares tortos sem nenhuma palavra. Talvez não houvesse mesmo o que dizer. Eles não poderiam mais vendar meus olhos e contar até dez, ou me jogar em um penhasco pelos pés. Agora que construí minhas paredes com as pedras da rua, onde eu estiver estarei no chão.


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