sexta-feira, 29 de março de 2013

Solidão: modo de usar.

Nunca tive medo de ficar sozinha, alias essa ideia era a mais fácil de todas. Quando todas as meninas queriam colocar suas barbies no carro com o Ken, a minha estava planejando a casa, regando o jardim, criando historias mirabolantes sobre o fim do relacionamento das mesmas. Enquanto minhas irmãs faziam comida com matinhos frescos em fogões de mentira, eu tinha um papelão dobrado ao meio imitando um computador onde eu revezava os textos e atendia ao telefone feito do controle remoto. Ás vezes eu acordava, ouvia o movimento da casa e fingia dormir. Gostava de ficar sozinha. Lembro que certo dia minha mãe comprou um quadro de um ambulante e o pendurou bem a frente da minha cama. O quadro era uma paisagem... Parecia uma cidade. Tinha um castelo, uma vila, riachos, enormes áreas verdes e no meio do pasto e do riacho havia uma casa. Simples, bonita na sua simplicidade, dava pra enxergar a chaminé de um fogão à lenha e a varanda reunia todos os tipos de pássaros. Era ali que eu me perdia. Imaginava-me alimentando os pássaros, pescando no riacho, e indo até a vila procurar algo que eu ainda não conhecia, mas que posteriormente todos conheceriam como toddynho. (risos) Quando adolescente colocava meu celular pra despertar de madrugada apenas para ouvir a radio e escrever. Eram versos soltos. Utopia. Cheios de erros de português e acertos da alma. Frases sem concordância que faziam sentido apenas na minha cabeça. Muita coisa hoje em dia só faz sentido na minha cabeça. As prioridades mudaram. Antes era só uma mochila e uma muda de roupa. Hoje preciso de repelente e o carregador do celular. Mas a cabeça continua nas nuvens. Algumas coisas não mudaram. Ainda preciso sair a esmo, dar de ombros pras inconstâncias da vida (e pras minhas), e olhar de soslaio pra quem se acha muito inteligente. Preciso de vento batendo na cara e de um coração acelerado. Preciso de espaço. Preciso de um pequeno espaço. Entre um riacho e um pasto verde. Preciso de musica, de um dia frio e de um bom lugar pra ler um livro. Preciso também apenas ouvir Djavan e fazê-lo parar de ouvir meus pensamentos. Preciso parar de ler Vinicius de Moraes e fazê-lo parar de me ler. Olhos inquietos, mãos frias, e a voz sempre titubeada. Por dentro sou gritos. Preciso desesperadamente de solidão para escuta-los. Pode parecer horrivelmente arrogante, e soar como um “eu me basto”. Não é isso. Preciso de amor como todas as outras pessoas, mas, preciso muito da atenção da pessoa que ocupa o segundo lugar no meu ranking de prioridades (em 1° minha filha), essa pessoa sou eu. Nossa! Como é gostoso ficar comigo, como nos entendemos e nos desentendemos. No final eu sempre dou razão a mim mesmo e fica tudo bem. A solidão de ser você, de não ser escravo de ninguém, a solidão de poder se auto analisar, descobrir onde erra, se preocupar com os erros e não se vangloriar com os acertos. Há muito mais a se corrigir do que se parabenizar sempre. A solidão de ouvir a si mesmo. De ver a si próprio como você é. Sem mascaras. Você não precisa mentir pra você. A liberdade da solidão. Você é o que você faz quando ninguém está vendo. Quando ninguém está me observando eu sou uma camponesa que corre todas as manhãs para o galinheiro a procura de ovos frescos pro café da manhã. E você? Já descobriu qual o seu papel na sua historia? O seu verdadeiro papel. Não aquele que você mostra pros outros. Beijos.

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